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quarta-feira, 16 de março de 2011

1º Crime...

Passamos agora a colocar semanalmente no nosso blog uma história do livro "Grandes Crimes" da humanidade.
O primeiro crime, que se situa no capítulo dos "Crimes se explicação", denomina-se:

"Anúncio para a morte" - Josephine Mary Backshall 

A voz  ao telefone era suave, fluente e persuaasiva... e Josephine Backshall foi instantaneamente envolvida numa teia de amistosa familiaridade. Conhecia a voz de quem falava e esperava com ansiedade que telefonasse. Afinal, estavam a ajudá-la a ganhar cem libras, uma elevada soma “para os seus alfinetes”, que iria alterar grandemente o orçamento familiar.
Nada havia de minimamente sombrio no trabalho em “part-time”, como modelo, de que Josephine começava a gostar. Aliás, só o facto de o pequeno anúncio que publicara num jornal local poder resultar em algo de anormal era coisa que nem passava pela cabeça daquela dona de casa de trinta e nove anos, mãe de três filhos, que cantava no coro da igreja e era chefe do grupo de escuteiros da cidade. E ter-lhe-ia parecido demasiado insultuoso admitir a hipótese de que haveria alguma intenção menos honesta no homem que respondeu ao seu anúncio e que, numa “sessão experimental”, a fotografara no relvado da sua casa muito arranjada e muito classe média, que se situava, um pouco afastada das outras, em Maldon, Essex. Dissera ao marido que o homem parecia "bom rapaz" e ao falar com ele novamente pelo telefone de que lhe oferecia o que seria o seu mais bem pago trabalho até então: cem libras por sessão por posar para uma firma de cosméticos de pouca categoria.
O homem tinha uma voz calma e contida, dando a impressão de ser uma pessoa muito agradável. Combinaram então um encontro ao fim da tarde e ao despedir-se do marido e sair de casa, Josephine não imaginava que o fazia pela última vez.
Três dias mais tarde, cerca do meio-dia de sexta-feira, 1 de Novembro de 1974 foi encontrada porta por estrangulamento.
O seu corpo fora atirado  para uma lagoa pouco funda, perto de uma solitária alameda. Tinha as mãos atadas à frente, com um bocado de corda, e uma corda idêntica apertava-lhe o pescoço.
Josephine Backshall, a boa vizinha que frequentava a igreja e tinha uma vida de prazeres simples, morrera porque confiara num homem misterioso, cuja identidade a Polícia gastou mais de cem mil horas a tentar descobrir, sem uma única pista que a pusesse no rasto de um "pássaro" o que fez do caso um dos crimes por esclarecer mais estranhos de Inglaterra.
Nada menos do que quarenta investigadores foram destacados para trabalhar durante um ano, na maior e mais decepcionante das inquirições do género, e mais de dezanove mil pessoas foram entrevistadas. Todas elas tinham por nome próprio Pete ou Dave e o apelido Thomson ou Johnson, pois era a combinação desses nomes que adaptava às pistas que Josephine dera à família e aos amigos a quem falara do homem com a máquina fotográfica que a contratara, não como ela julgava, para modelo em part-time , mas para vítima de um assassínio brutal cujo móbil nem sequer foi alguma vez desvendado.
Milhares de matrículas de carros foram cuidadosamente examinadas pela Polícia, ao tentar descobrir o carro possivelmente um Ford, que foi visto a afastar-se da cervejaria Fountain, em Good Easter, Essex, na noite em que Josephine teve o encontro fatal com o seu assassino.
Os investigadores apuraram que Josephine o homem em que tão facilmente confiara tinham parado ali para tomar uma bebida - um cerveja cada um - cerca de uma hora depois de ela ter saído de casa. Calculava-se que ele a tivesse levado ali depois de ela ter "um jantar de negócios" num restaurante chinês - conclusão que se baseava no facto de o médico-legista ter descoberto resíduos de comida chinesa no estômago da vítima.
A mulher do dono da cervejaria foi a última testemunha do encontro entre o assassino e a Josephine, quando viu o casal na sala do Fountain. "Só o vi de relance" disse ela. "Era um homem alto, cuja cabeça chegava à fila de canecas de cerveja que estavam penduradas sobre o bar. Nunca me encarou e, pensando melhor, parecia que tentava que ninguém o visse bem."
Mrs. Jones identificou Josephine através de umas fotografias de férias da família, que os investigadores lhe mostraram: "Lembrei-me logo dela, era uma mulher atraente. Sentara-se ao canto do bar com um homem e parecia totalmente à vontade."
Durante meses, os investigadores mantiveram secretos os pormenores do encontro no Fountain, na expectativa de que o assassino voltasse ao mesmo local, mas foi uma esperança frustrada.
Outra possível pista que os inquiridores tiveram de explorar foi uma ligação com a França, pois uma mulher-polícia atenta encontrou uma amostra de cosméticos, no quarto de Josephine, pertencente a uma gama que fora importada de França, em quantidades limitadas, antes de entrar em distribuição. Teria o assassino usado Josephine como "cobaia" daqueles novos cosméticos?
Mais uma vez o inquérito a nada levou, bem como a investigação minuciosa a todos os estúdios fotográficos de Inglaterra e de França donde o assassino podia ter saído, tentado pelo anúncio posto por Josephine e que dizia assim: "Senhora, trinta e muitos, procura emprego em part-time . Transporte próprio. Qualquer coisa serve. Experiência anterior: bancária. Sabe dactilografar." Por baixo vinha o seu número de telefone.
Este tipo de anúncio, uma forma de iludir à lei, era usado para ofertas de contactos sexuais pagos, mas um funcionário superior, encarregado do caso descrevê-lo-ia como "totalmente ingénuo", acrescentando: "Todos nós sabemos que a frase "qualquer coisa serve"
 é tomada à letra, mas a grande ironia e tragédia deste caso é que nenhum subentendido podia estar mais longe da verdade. Mistress Backshall era uma mulher temente a Deus e aquele tipo de interpretação do seu anúncio nunca lhe ocorreria. Parece mais do que provável que a sua inocência (um atributo raro nesta época e na sua idade) pode tê-la levado a colar-se na posição de vítima.
Outros funcionários descreveram o caso de Josephine Backshall como o mais frustrante em que já haviam trabalhado, apesar de, tanto quanto possível, terem conseguido reconstituir aquele diário de morte.
Uns dias depois de Josephine ter posto o anúncio, telefonou um homem a oferecer-lhe trabalho como "modelo de cosméticos". Marcaram uma entrevista para dali a uma semana, a uns 18 quilómetro de casa de Josephine, em Witham, Essex, mas o homem não apareceu. Telefonou no dia seguinte para voltar a marcar o encontro e mais uma vez faltou. Duas semanas mais tarde o telefone tocou novamente e Josephine, muito contente, combinou nova entrevista.
Dessa vez encontraram-se e o "fotógrafo" tirou-lhe uma série de fotografias no relvado de sua casa durante o dia. Por essa altura já o marido de Josephine começava a desconfiar de que aquele trabalho em part-time não iria dar em nada, e ironicamente exprimira a sua leve dúvida sobre a autenticidade do fotógrafo, que prometia à mulher largas somas pelo que parecia ser um trabalho fácil, mas ela afastou esses receios dizendo que o homem parecia perfeitamente sincero e mesmo "bom rapaz".
O telefone voltou a tocar, na terça-feira, 29 de Outubro de 1974e foi combinado o encontro fatal. Josephine saiu de casa em Norfolk Close, Maldon, cerca das seis da tarde, dirigindo-se a Withman no seu Ford Cortina vermelho, de matrícula BVW 374L.
Os investigadores apuraram que foi vista na estrada de Witham's Colingwood, num parque de estacionamento, entre as seis e meia e as sete, e um transeunte disse que o carro devia ter avariado, porque ela tinha o capot aberto e olhava para o motor, junto à estrada do parque. Porém, pouco antes das sete, encontrou-se por certo com o assassino.
Há um vazio entre esse momento e três dias mais tarde, quando um trabalhador dos telefones fez a macabra descoberta do corpo numa vala em Bury Green, na divisória entre Essex e Hertfordshire.
O assassino não deixara qualquer pista e o superintendente da Polícia Jack Moulder mantém o dossier Josephine Backshall aberto, costumando comentar apenas: "Alguém, algures, deve conhecê-lo".

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