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quinta-feira, 12 de maio de 2011

6º crime...

O Sherlock Holmes canino...

Mede cerca de trinta centímetros de altura e a sua conquista è o grande objectivo de algumas das maiores estrelas do desporto. Quer erguida em triunfo ou admirada de longe, a Taça Jules Rimet é o prémio dos prémios do futebol profissional.
Embalou os sonhos de centenas de nações, de jogadores lendários, como Pelé, e literalmente de milhares de fanáticos de todo o Mundo, que aclamam e gritam.
É mais vulgarmente conhecida por Taça do Mundo – um prémio recebido uma vez na vida, que é atribuído de quatro em quatro anos a um país e aos seus onze jogadores mais dotados e idolatrados – e na ocasião da entrega passa das mãos de reis, rainhas, presidente e primeiros – ministros para as dos jogadores.
Quando foi levada para Inglaterra, umas semanas antes do começo da Taça do Mundo de 1966, foi imediatamente roubada. A taça pela qual países rivais tinham durante anos lutado tão duramente, mesmo fora do campo de jogo, na arena política, desaparecera do Central Hall de Westminster, em Londres, quando estava em exposição, juntamente com valiosas colecções de selos o que foi considerado um escândalo internacional.
A Scotland Yard foi imediatamente chamada e nos parlamentos de todo o Mundo puseram – se questões, sendo oferecidas enormes alvíssaras por todo o tipo de organizações em troca da devolução da taça. Fora de Inglaterra, o ambiente era hostil e furioso, especialmente naqueles países onde, juntamente com a religião, o futebol é o escape do povo. Não se poupariam esforços não só para encontrar o troféu do futebol, como para desagravar o orgulho nacional, atingido por aquele roubo.
A polícia, a quem havia sido dada ordem de perseguição apertada ao ladrão ou ladrões da taça, foi parar a um beco sem saída. Parecia que o troféu se evaporara e a procura de pistas e suspeitos era amargamente frustrante. Não era provável que alguém a tivesse roubado para a derreter, pois o ouro de que era feita devia valer cerca de duas mil libras – apesar de estar segura em trinta mil -, mas o seu valor real era incalculável.
Os coleccionadores particulares, sempre dispostos a tratar com o mercado negro para adquirirem os seus tesouros secretos, pagariam uma fortuna para terem a lendária taça num cofre secreto, era essa a única teoria que a polícia se podia agarrar para ter qualquer esperança.
No princípio de Março de 1966, o Mundo susteve a respiração, enquanto prosseguia a desesperada procura da taça. O roubo constituía uma tragédia de enormes proporções para os dedicados adeptos do futebol, mas, mais do que isso, era uma situação delicada para a Inglaterra, que, pela primeira vez na história do desporto, era a anfitriã do prestigioso torneio.
Era vital que a taça fosse encontrada imediatamente.
Enormes títulos de jornal levantavam todo o tipo de questões, algumas delas impensáveis para a hierarquia da FIFA, a entidade que governa o futebol mundial. Estaria nas mãos de um milionário sem escrúpulos? Teria sido roubada e depois simplesmente atirada fora e perdida para sempre, quando o ladrão se apercebera da enormidade do crime? Achar – se – ia na posse de um sindicato de patifes, que esperavam vendê-la pelo lance mais alto? Teria sido derretida e destruída? As possibilidades eram infinitas.
A resposta veio, da forma mais inesperada, na noite de 19 de Março.
David Corbett, de vinte e seis anos, tripulante de uma barcaça do Tamisa, levara Pickles, o cão da família, a passear, perto de sua casa em Beulah Hill, Norwood, a sul de Londres, quando, pelo canto do olho, apanhou um reflexo, um brilho que durou apenas um segundo.
Viera do que parecia ser um trouxa de jornais velhos e sujos, que se encontrava debaixo do loureiro onde Pickles, um arraçado de collie, estivera a cheirar e a esgravatar com grande interesse. Corbett chamou o cão, mas este não veio.
Como David Corbett recordaria mais tarde: “curvei – me sob o loureiro, levantei a primeira camada de jornais e ela lá estava. Descobri logo o que era: a Taça do Mundo. Acho que a primeira coisa que vi foi a inscrição, as palavras “Brasil 1962” escritas perto da base. Sou adepto de futebol e tinha seguido todos os relatos dos jornais. Podem imaginar como fiquei perplexo.
Levei – a para o nosso apartamento, mostrei – a à minha mulher, Jeannie, e depois telefonámos à polícia que ficou tão perplexa como nós. A verdade é que não teria deitado uma segunda olhadela ao molho de jornais se não fosse o Pickles, foi ele o verdadeiro herói.”
E realmente foi. Gente amiga dos animais começou a enviar de todo o Mundo prendas para o investigador canino e a Liga dos Amigos dos Amigos dos Animais de Inglaterra condecorou – o com a sua mais alta distinção: uma medalha de prata em que estavam gravadas as palavras: “ Ao Pickles, pelo seu papel na descoberta da Taça do Mundo, 1966”. Na cerimónia, foi dito pelo secretário da Liga: “Com o seu acto, Pickles chamou a atenção sobre o mundo canino e assim ajudou a nossa tarefa.” 
Na mesma cerimónia – e houve muitas em honra de Sherlock Holmes peludo – um paquete de hotel avançou com uma salva prateada, onde vinha mais presentes: trazia um osso de borracha, cinquenta e três libras que conseguira juntar entre o pessoal do hotel e o melhor bife que o Pickles já vira.
Contudo alheio à importância da ocasião, o cão deitou – se e bocejou.
Mas a pergunta sem resposta era: quem roubou a Taça do Mundo? À qual, apesar das suas aturadas pesquisas a polícia nunca responderia.
Porém, como em todos os crimes por resolver, quando o dedo da suspeita se ergue e aponta, há sempre gente que vai sofrer, e isso, espantosamente, foi o triste destino do próprio dono de Pickles. Menos de dois meses depois de a sua atenção ter ajudado a recuperar o troféu, Corbett disse a um jornal: “ Quem me dera nunca ter encontrado aquela porcaria. Na altura fiquei muito entusiasmado com o caso, mas desde então só tive aborrecimentos.
Quando a entreguei à polícia, a princípio pareceram não acreditar na minha história de Pickles a ter achado debaixo do loureiro. Apertaram – me, perguntaram – me onde estava no dia em que a taça foi roubada, se coleccionava selos, se alguma vez estivera no Central Hall, em Westminster, etc. a certa altura acreditaram em mim, mas os problemas não foram só com a polícia pois as pessoas começaram a suspeitar de que eu estava envolvido no roubo da taça. Certo dia, a minha mulher e eu passávamos por Trafalgar Square quando um grupo de rapazes nos viu e gritou: “Foi ele que a roubou. Vamos afogar o cão no lago.” Foi horrível”.
Claro que por fim Corbett foi completamente ilibado, tendo até recebido uma recompensa de seis mil libras, e se não assistiu à final da Taça do Mundo, participou no êxito de Pickles quando permitiu que o cão fosse conhecer os elementos de um das equipas finalistas, a Alemanha Ocidental, e todos eles lhe quiseram para terem sorte, esperando também “achar” a Taça no final do jogo.
Mas não seria assim, a Inglaterra ganhou o troféu e, graças a Pickles, que infelizmente morreu quatro anos depois, apagou o episódio mais embaraçoso da história do futebol.    

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